A Marca

A história da Alfa Romeo

Para uma melhor percepção sobre a marca Alfa Romeo torna-se necessário analisar sua história, seus erros e acertos, que criaram a imagem de beleza, sofisticação técnica e esportividade, mas que também expõe uma certa dificuldade em definir claramente seu público alvo e expandir para novos mercados.

Nessa página, você irá verificar que uma das maiores marcas automobilísticas do mundo, a Alfa Romeo, se mistura e se confunde com a própria história do automóvel. Assim, desde 1910, a Alfa sempre foi conhecida não só pela engenharia inovadora, que a levou a inúmeras vitórias em várias competições, mas pelo estilo, sempre muito bem pensado e trabalhado, primando pela eficiência aerodinâmica e revelando o grande equilíbrio e classe do design italiano, sem contar o elevado carisma.

Nesses mais de 100 anos de história, a pegada esportiva da marca milanesa tem sido o principal motivo para a manutenção e continuidade da lenda Alfa Romeo. Na Itália, a venda de automóveis sempre teve relação direta com as corridas. A reputação obtida por um carro nas pistas determina o quão rápido ele deixará o show room da concessionária.

Em 1910, nascia em Portello a A.L.F.A.(Anonima Lombarda Fabrica Automobili). Como imagem da marca, adotou-se o tradicional símbolo milanês, a cruz vermelha sobre fundo branco, junto a uma serpente do escudo de armas dos Visconti de Milão.

Como nessa época, para se testar a durabilidade dos carros eram fundamentais as competições, a A.L.F.A. projetava modelos extremamente velozes e começou a colher os primeiros resultados rapidamente, vencendo as primeiras corridas pós-guerra no biênio 1920-21, no circuito de Mugello.

Antes disso, porém, a empresa passou por dificuldades financeiras, sendo adquirida pelo industrial Nicola Romeo, que tomou com decisão o controle da companhia, anexando seu sobrenome à marca. O modelo 20-30HP ES, de 4 cilindros, levou pela primeira vez o nome completo ALFA ROMEO em 1920.

A.L.F.A. 24 HP Torpedo by Castagna '1910–14

Alfa Romeo 20-30 ES Torpedo '1921–22

Em 1923, Nicola Romeo contrata um projetista de grande renome, Vitório Jano, que trabalhava para a Fiat. Queria os melhores cérebros, pois pretendia as honras dos Grandes Prêmios para sua marca. Nessa década começa a ascensão industrial da empresa e da Legenda ALFA ROMEO.

Seu preciosismo técnico se revela especialmente nos motores, com conceitos avançados e inovadores, como o duplo comando de válvulas no cabeçote, válvulas inclinadas e câmaras de combustão hemisféricas, que permaneceriam sem grandes modificações por décadas. Todos os esforços eram para construir máquinas de alta performance e vencer corridas. Os modelos de série nada mais eram que adaptações vindas das pistas para divertir os muito ricos. Eram os carros preferidos da aristocracia italiana.

Nesta época, a Alfa Romeo contava com o auxílio do grande Enzo Ferrari, que entrou para a companhia em 1920, primeiro como piloto de testes e mais tarde como chefe da Escuderia Ferrari, que preparava os carros Alfa para corridas. Foi a Equipe de Enzo que humilhou as poderosas equipes alemãs da década de 30, Auto-Union e Mercedes-Benz, financiadas pelo regime nazista, vencendo de forma sensacional o Grande Prêmio da Alemanha de 1935, em Nurburgring. Naquele momento a rivalidade ia muito além da disputa nas pistas e a Alfa Romeo, controlada pelo governo de Mussolini, tinha que desafiar e se mostrar melhor que os nazistas alemães.

Os carros de passeio também viveram uma fase especial, com modelos de alta performance como as 8C 2900, que chegavam à fantástica velocidade de 185 Km/h. Na época eram considerados os carros de passeio mais velozes do mundo.

Alfa Romeo 8C 2900B Lungo Touring Berlinetta '1937

Os anos 1940 foram marcados pela 2º Grande Guerra, que se estendeu pela Europa. As indústrias automobilísticas foram transformadas em fábricas de equipamentos bélicos, inclusive a Alfa Romeo, que neste período fabricou motores para aviões, jipes militares, entre outros. Com o restabelecimento da paz na Europa em 1945, os carros voltam a ser fabricados, mas eram os mesmos que haviam sido descontinuados em fins de 1939, com melhorias.

Alfa Romeo 6C 2500 Super Sport Villa d'Este '1949

Em 1947, a Alfa começa a lançar novos modelos que dispunham dos mais modernos conceitos aerodinâmicos da época. Um desses modelos viria em 1949, com um desenho clássico e elegante: tratava-se da 6C 2500 Villa d’Este, chamada assim por ter vencido um concurso de elegância homônimo, sendo um exemplo de harmonia de linhas e atualidade.

Em 1946 a Alfa Romeo retorna às corridas, vencendo o Grande Prêmio das Nações em Genebra, Suíça, sendo conduzida por Giuseppe Farina. A Alfa continua a disputar como um dos maiores e mais conceituados fabricantes da época.

Os anos 1950 têm início, e após décadas vendendo ao governo e aos ricos e famosos, a empresa se depara com uma nova tendência de mercado na Europa: a de carros menos luxuosos e mais funcionais. Mas a marca enfrenta um dilema: como renunciar às suas características de esportividade em nome de carros simples e econômicos? Essa era, entretanto, a única saída para continuar crescendo.

Assim, em 1950, sob a batuta de Orazio Satta Puliga, era lançada a linha 1900, com motor de 4 cilindros. Esse novo carro conseguia atender a uma clientela bastante exigente e ao mesmo tempo era muito econômico e belo, especialmente nas versões cupê. Logo tornou-se conhecido como "O carro de família que vence corridas". Foi o marco divisório entre a produção artesanal e a produção em série.

A temporada de 1950 de F1 prova que a Alfa Romeo possuía o melhor carro: os bólidos vermelho-sangue fabricados em Portello conquistam nada menos que onze vitórias em onze corridas e a Alfa Romeo arrebata o 1º Campeonato Mundial de Fórmula 1. Em 1951 repete a dose, sagrando-se bi-campeã com o piloto Juan Manuel Fangio.

Mas nem tudo eram flores: a fábrica passava por dificuldades financeiras e para continuar disputando a Fórmula 1 haveria a necessidade da construção de um novo carro, pois as Alfetta 158/159 tinham chegado ao limite de sua evolução.

Alfa Romeo 1900 Berlina '1950

Nesse contexto, a Alfa Romeo retira-se das pistas, mas os carros já tinham acumulado 37 vitórias desde 1938, e venceram a primeira e a última corrida de que participaram. A marca, assim, atingia o ponto mais alto de sua história, resultado tão sonhado por seu maior entusiasta: Nicola Romeo.

Com a crescente necessidade de atingir um público cada vez mais numeroso, a partir de 1955, a Alfa passa a produzir um carro de pequena cilindrada, reduzida dimensão e baixo consumo. Nascia então o modelo Alfa Romeo de maior êxito comercial, a linha GIULIETTA. Em toda a história da Alfa, até 1954, 33.000 carros de todos os tipos haviam sido vendidos, e somente a Giulietta vendeu mais que o triplo disso em 1960. O primeiro motor de 1,3 litro rendia 80 CV a 6300 RPM, fazendo com que o carro atingisse 166Km/h, um desempenho impressionante para um veículo 1300 na década de 50.

A virada dos anos 1950 para os de 60 foi marcada pela nova era industrial brasileira, talvez o berço para o chamado "milagre econômico". Nesse contexto, a Fábrica Nacional de Motores, surgida ainda nos anos 40 para a produção de motores aeronáuticos e geladeiras, aos poucos aproximou-se do mundo dos automóveis. Em 1960 lançava um modelo licenciado pela Alfa Romeo, proveniente de um projeto já em meia vida na Europa.

FNM 2000 '1964

O nome dado foi FNM 2000 JK, que começou a ser produzido quando Brasília era inaugurada. Os primeiros modelos eram apenas montados na localidade de Xerém, município de Duque de Caxias, RJ, na raiz da serra de Petrópolis, com componentes vindos da Itália.

A principal diferença em relação ao irmão Alfa 2000 vendido na Itália estava na taxa de compressão do motor, reduzida em função da gasolina nacional. Sua aura de modelo exclusivo aumentava em função de uma produção muito pequena, cerca de 500 unidades anuais, que acabavam nas mãos de poucos felizardos. Para se conseguir um na época, só com "pistolão", como era chamada a recomendação de algum político.

Em 1968, ano que marcou uma mudança radical na empresa, o controle deixava de ser da estatal e passava para as mãos da própria Alfa Romeo italiana.

Na Itália, com a chegada dos anos 60, a Alfa Romeo estava voltada à produção dos compactos e apresentou ao público novas versões da Giulietta, com design de mestres como Bertone, adotando uma linha jovem e dinâmica. Em pouco tempo este modelo tornou-se um grande sucesso comercial.

Em 1963, a marca inaugura uma nova fábrica em Arese e continua a lançar novos carros com motorização e dirigibilidade esportiva. Entre eles, a Spider Duetto, desenhada por Pininfarina, que foi produzida até início dos anos 90 com algumas atualizações de design e é, talvez, o maior sucesso internacional da Alfa Romeo.

Ao mesmo tempo, a AutoDelta, divisão esportiva da Alfa, pretendia privilegiar as competições da categoria Turismo, que utiliza-se de carros em produção, e o objetivo da empresa era o Campeonato Europeu, que acabou conquistando em 1966, 67 e 68.

Alfa Romeo Spider Duetto '1967

No final dos anos 60, a Alfa Romeo participa de competições da categoria Esporte Protótipos. Para isso desenvolve uma nova linha de supercarros chamada 33.

No início da década de 1970, a Alfa continua investindo na linha Giulia, que possui grande aceitação. Somente em 1976 a versão GTV deixou a linha de produção, finalizando um processo de desenvolvimento que durou quase 15 anos.

Alfa Romeo Giulia 1300 GT Junior '1975

Ainda nos anos 70, a Alfa Romeo desempenha um importante papel para o crescimento industrial do sul da Itália. Nesse contexto, a fábrica começa a produção em massa de um modelo de 1200 cm3, conhecido como Alfasud, que trazia tração dianteira, motor com 4 cilindros horizontais e contrapostos (boxer).

A Alfa enfrenta grandes problemas com o novo compacto devido a falhas de qualidade na nova fábrica que abalaram a imagem do fabricante. E mais uma vez a companhia retorna às pistas, numa ação conjunta de melhoria de produto e divulgação, através de competições monomarca, e o Alfasud retoma o brio, com sua excepcional estabilidade em marcha e o espírito e estilo tradicionalmente esportivo da casa de Arese.

Com este modelo, o número de clientes da marca cresce notavelmente na Itália e no exterior. Logo a gama se enriquece com a versão TI, com carroceria de 2 portas e motorização de 1300 cm3, e o cupê Alfasud Sprint.

Em meados de 1972 aparece a Alfetta, um modelo médio-grande que teve boa aceitação pelo público, e em 1979, a fábrica apresenta um carro de altíssimo luxo e grande dimensão, mas que teve poucas unidades produzidas, o Alfa 6.

Enquanto isso, no Brasil, a empresa controlada pela própria Alfa Romeo Italiana lançava um novo modelo.

As peças publicitárias sempre exploraram o caráter exclusivo e esportivo do JK. Tal caráter só tornaria a aparecer com um novo modelo para 1974. Totalmente modificado, o 2300 nada tinha de parecido como os Alfas 2000 e 2150 comercializados anteriormente no Brasil, a não ser pela exclusividade. Maior e mais espaçoso, o acabamento confirmava sua linhagem nobre, onde o volante de madeira talvez fosse o maior destaque, ao lado dos quatro faróis que se acendiam simultaneamente no facho baixo. Estes carros foram sinônimo de requinte e sofisticação tecnológica no Brasil.

Modelos caros e exclusivos para atender um público formador de opinião. Possuíam fama de complicados, pois poucos tinham capacitação para trabalhar com sua moderna mecânica. Um modelo Executivo foi apresentado no Salão do Automóvel de 1978, logo após a aquisição da marca pela Fiat, quando a produção carioca foi transferida para Betim. Prevendo equipamentos dignos de uma limusine, seria vendido sob encomenda.

Já os modelos para 1980 começavam a se render às tendências da época: para-choques pretos substituíam os cromados e o 2300 ti passava a contar com uma pintura preta emoldurando as janelas laterais, diferenciando-o do B.

Alfa Romeo 2300 '1974

Durou até 1986 sem muitos investimentos e ou modernizações. Pouco depois da sua descontinuação, o controle acionário da Alfa Romeo na Itália também passaria para as mãos da Fiat e a produção de Alfa Romeo made in Brasil jamais foi retomada.

Na Europa, os anos 80 são marcados pelo declínio na participação esportiva da Alfa Romeo. Mesmo continuando a participar da Fórmula 1, torna-se uma equipe sem brilho na competição, contrariando seus feitos no passado. Mesmo assim, continuou na categoria máxima do automobilismo até o fim da temporada de 1985. Depois, até 1987, como fornecedora de motores.

Alfa Romeo GTV6 '1983

Na primeira metade da década de 80, a Alfa Romeo cria um carro com design extremamente agressivo e traseira truncada, a GTV6, que era um meio de reviver a saudosa GTV dos anos 70 e continua a produzir seus modelos compactos e carros médios de luxo.

Em 1986, a Fiat compra a Alfa Romeo, assumindo o seu comando, numa manobra para evitar que a americana Ford comprasse o que era considerado um legado italiano. A Fiat promove a reestilização de alguns modelos enquanto projeta novos carros baseados em plataformas conjuntas com outras marcas do grupo.

Em 1987 o Centro Stile Alfa lança, em conjunto com o Studio Pininfarina, a nova e bela Top Line Alfa 164, dotada de muito luxo e com várias versões de motorização. Começa a ser importada para o Brasil em 1990 ao exorbitante preço de US$135,000. A Fiat reiniciou a operação de forma ordenada em 1994, desta vez vendendo o mesmo veículo a preços em trono de US$70,000, o que causou uma enorme desvalorização nos veículos importados anteriormente e um grande prejuízo à imagem da marca.

Os anos 90 são marcados pela retomada da Alfa Romeo no cenário mundial. Agora fazendo parte do Grupo Fiat, a marca continua a exercer seu eterno fascínio. Tendo o Alfa 164 como topo de linha, a montadora logo aposenta os modelos antigos. Em Janeiro de 1992, lança a tão esperada 155, que incorporou os últimos avanços tecnológicos do setor.

Conhecida como o "Quinto filho" por ser construída sob a mesma plataforma do Lancia Dedra, Tipo, Tempra e Tempra SW, todos pertencentes ao Grupo Fiat.

Alfa Romeo 164 3.0 V6 '1987

Alfa Romeo 155 2.0 Twin Spark '1994

Mas a 155 era um verdadeiro Alfa Romeo, evidenciando um design agressivo e carismático, como legítimo descendente da linhagem das berlinas médias. Esse modelo somente chegou no Brasil no meio de sua vida e foi vendida entre 1995 e 1997, num total de 969 unidades.

A Alfa 155 foi produzida até março de 1998 e foi a principal responsável pela volta da Alfa Romeo às pistas. Assim como as antigas 1900, ficou conhecida como o "carro de família que vence corridas".

A 155 foi substituída pela nova 156, dotada de linhas mais arredondadas e com vários detalhes que remetiam às Alfas do passado, o que de uma certa maneira reconciliou a marca com os “puristas” que torciam o nariz à gestão Fiat.

Ainda em 1995, a Alfa Romeo apresentou as novas Spider e GTV, dotadas de rara beleza e grande desempenho. A Spider aposentava o clássico modelo anterior, que havia passado por várias atualizações e já não conseguia esconder sua idade.

Alfa Romeo Sipder '1996
Alfa Romeo 145 Qadrifoglio '1996
Alfa Romeo 156 '1997

Já em 1996, a Alfa apresentava ao público a pequena e notável Alfa 145, que possuía um design inovador e ampla gama de motorizações. Para o Brasil vieram inicialmente duas versões que utilizavam motores da 155, 2.0 16V Twin Spark. Em 1998, a Fiat importou algumas dezenas de exemplares com motor 1.8, visando, principalmente, reduzir seu preço e aumentar as vendas. Este modelo obteve um bom volume de vendas no Brasil até 1999.

Três anos depois a 145 foi substituída pela 147, que havia arrebatado o Prêmio de Carro do Ano 2000 na Europa. Esse modelo deixou para trás concorrentes como Ford Mondeo, Toyota Prius, Audi A2 e Mercedes Benz Classe C. Grande parte do sucesso da 147 estava no seu design. Seus elementos de estilo evocavam um dos mais famosos modelos Alfa do passado, a fabulosa 6C 2500 Villa D`Este.

Também no ano 2000, a Alfa Romeo entrou para o mercado de Station Wagons, lançando a Alfa 156 Sportwagon, espaçosa e esportiva, que esteve exposta no Salão Internacional do Automóvel de São Paulo e atraiu sobremaneira a atenção do público.

Outro modelo importado entre 1999 e 2003 foi a topo de linha 166. Em pouco mais de duas centenas de unidades. As importações para o Brasil foram encerradas em 2005, com um pequeno lote de 147 já com facelift.

Alfa Romeo 147 '2000
Alfa Romeo 156 Sportwagon '2001
Alfa Romeo 166 '2000

por Renato Cunha