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IL MOSTRO: Os Alfas SZ e RZ

A Alfa Romeo não estava passando por uma boa fase na década de 80, os fãs reclamavam que a marca havia perdido sua identidade, e passava a fabricar apenas mais um Fiat com roupagem esportiva.
A partir dessas reclamações, a Alfa iniciou em 1987 o projeto de um novo carro com o nome o código ES-30, e que tinha a missão de resgatar as tradições da marca.
O novo carro foi projetado no centro de estilo da Alfa Romeo com o auxílio do famoso estúdio de design Zagato, por um sistema inovador, em programas de computador CAD e CAM, uma novidade tecnológica na época, o que durou exatos 19 meses dos primeiros esboços ao carro totalmente pronto. Um recorde de tempo de projeto.
O carro foi lançado no Salão de Genebra de 1989, oficialmente com o nome de ES-30, mais dias depois foi adotado o nome SZ, sigla em homenagem ao famoso Giulietta Sprint Zagato da década de 60.
O SZ - Sprint Zagato representava toda a esportividade possível na Alfa Romeo. Era uma série limitada a 1036 carros com o objetivo de recuperar o prestígio da marca.
A imprensa internacional, logo em Genebra, já classificaram o novo Alfa como sendo um dos carros mais feios do mundo, ganhando o apelido de "IL Monstro" (o mostro em italiano). Certamente eles foram pegos de surpresa pelas linhas brutas e marcantes, que eram incomuns nos carros da marca, que costumava mostrar um design de extrema beleza. E o SZ era uma incomum mistura de linhas quadradas e arredondadas. O impacto foi tão grande, que o SZ marcou uma revolução no design mundial, que se abriu mais para inovações, muito comum nos dias de hoje, mas terríveis naquela época.
O SZ era um cupê 2+2 lugares, que também tinha a versão conversível de 2 lugares que só foi fabricada no fim do ano de 1992, chamada de RZ. O lançamento dos dois era um audacioso plano da Alfa Romeo, eles iriam ser símbolos de tecnologia e esportividade para aquela geração de carros da marca. Era um laboratório sobre rodas para apurar todos os aparatos esportivos que a Alfa poderia oferecer.
Por isso o carro foi construído em uma série limitada de 1036 unidades (sendo 278 do conversível RZ), pelo que disseram na época, foram totalmente vendidas antes de se iniciar a produção, que estava prevista para apenas 1000 carros. De 1989 até 1994 o SZ e RZ eram feitos quase que artesanalmente na fábrica de carrocerias da Zagato, carros únicos, exclusivos e numerados.
Além do SZ, existia o belo conversível RZ - Roadster Zagato que é ainda mais raro pois apenas 278 unidades foram fabricadas em 1993. Este possuía apenas dois lugares.
A carroceria do SZ era feita de uma resina termoplástica reforçada com o material composto de fibra de vidro, e era ligada ao chassi de aço por meio de adesivos especiais. Curioso era o seu assoalho, feito em uma peça única de fibra de carbono, o mesmo material usado nos carros de fórmula 1. Essa carroceria, apesar de manter algumas linhas quadradas, conseguia uma ótima aerodinâmica com um Cx de 0,30. Por se tratar de uma série especial, o SZ só era disponível em uma única cor, a vermelha, com o teto superior pintado em cinza chumbo. Já o conversível RZ podia ser comprado nas cores vermelho, amarelo e preto.
Na frente se destacavam os enormes pára-choques envolventes com três discretas entradas de ar. O cuore sportivo era bem pequeno, em forma de triângulo, que era ligado a vincos no longo capô, onde existiam também pequenas entradas de ar que só terminavam no pára-brisas.
O vidro traseiro de grandes dimensões cobria a cabeça dos passageiros na traseira e o teto em contraste com a cor da carroceria, eram características marcantes do SZ.
Os faróis eram um conjunto de seis pequenos faróis retangulares, três para cada lado, que eram um para a lanterna e o faixo baixo, outro para o alto e um farol de milha auxiliar, acompanhados por grandes lentes de seta nas extremidades.
Sua traseira de corte reto era marcante, onde as lanternas foram inspiradas no Alfa 164, ligadas em uma barra de ponta a ponta. A traseira era alta, e com um vidro enorme, que chegava a cobrir a cabeça dos ocupantes nos bancos traseiros, e no seu final possuía um aerofólio que realmente cumpria sua função.
A tampa traseira era pequena, não se abria junto com o vidro, e abrigava um minúsculo porta-malas. O pára-choques traseiro era bem menor que o dianteiro, e abrigava a placa de licença e aos seus lados as luzes de neblina e olhos de gato. Também do pára-choques se via a única saída do escapamento.
A traseira alta do SZ e as lanternas ligados de ponta a ponta como no Alfa 164 foram alvos de críticas em seu lançamento. A tampa do porta-malas não se abria junto com o enorme vidro traseiro.
A mecânica foi desenvolvida a partir de um chassi do vencedor Alfa Romeo 75 no Grupo A do campeonato de turismo italiano, e possuía alguns detalhes de competição como as juntas de nylon na suspensão. As capacidades dinâmicas e a rigidez desse chassi sempre foram muito apreciadas, tal como o seu brilhante sistema de freios e a direção com respostas rápidas. A Alfa Romeo teve muito trabalho ao adequar esse tipo de chassi para uso nas ruas. Para isso foram construídos três protótipos do carro para desenvolvimento. Após muitos testes foram definidas as regulagens que a mecânica sofreria para uso nas ruas.
O motor era o já conhecido 3.0 V6 com tração traseira, que era utilizado também em outros modelos da marca, só retrabalhado para atingir 210 cv, e outras modificações foram feitas, como a transmissão de cinco marchas que é colocada separadamente na traseira (transeixo), que assegurava uma ótima distribuição de peso de 539 kg no eixo dianteiro e 501 kg no traseiro. Existiam ainda um radiador de óleo e uma bomba somente para a transmissão. A injeção e a ignição do combustível eram controladas por um moderno sistema eletrônico integrado (Bosch Motronic ML 4.1) com sensor da detonação.
O chassi do SZ foi baseado no Alfa Romeo 75 de competição e adaptado para andar nas ruas. Nos "Zagatos", o conhecido motor 3.0 V6 foi retrabalhado para ter 210 cv.
Abaixo o raio X da complexa mecânica de competição do SZ. A sua transmissão fica separada do motor, na parte traseira. Repare na incomum posição dos discos de freio traseiros, encostados no câmbio.
A velocidade máxima anunciada era de 245 km/h, mas uma revista italiana da época conseguiu atingir facilmente 275 km/h com ele. A aceleração de 0-100 se dava em exatos 7.0s, e percorria 1 km em 27.4s.
A suspensão do SZ também era de competição, onde na dianteira eram à quadrilátero e na traseira no sistema De Dion. Os amortecedores eram ajustáveis eletricamente em altura através de duas teclas no painel, uma para suspensão traseira e outra para dianteira, que podiam levantar o carro em até 50 milímetros do solo. Essa regulagem era muito útil para passar em estradas mais precárias, onde a sua baixa altura em relação ao solo, apenas 80 milímetros, poderia danificar as partes mecânicas. Suas belas rodas secionadas em círculos, tradição da Alfa Romeo, de aro 16, calçavam enormes e modernos pneus Pirelli P-Zero.
O interior era luxuoso e esportivo ao mesmo tempo, com o seu painel revestido em couro, tomado por 7 mostradores que administravam as funções vitais do carro. O velocímetro e o conta-giros ficavam atrás do volante, como manda a tradição. No SZ os mostradores eram pretos, e no RZ eles eram brancos, sendo essa a única diferença no painel dos dois modelos. O carro possuía alguns luxos como vidros e retrovisores elétricos, travamento central das portas e o ar condicionado. O console central abrigava os controles de ar e um sofisticado rádio toca fitas.
O painel do SZ e RZ eram muito luxuosos e esportivos, com bancos e painel revestidos em couro e com vários instrumentos, que no cupê eram pretos, e no conversível brancos.
Os belos bancos do SZ eram de couro bege, oferecidos como equipamento de série, e possuíam abas laterais bem pronunciadas, que ajudavam a segurar o corpo nas curvas muito bem feitas pelo carro. No banco do passageiro havia ainda uma alça de apoio revestida também em couro. O RZ Possuía uma maior variedade de cores para os bancos que o SZ, que tinha o bege, o preto e o esportivo vermelho, que eram escolhidos ao gosto do cliente. Mas nem tudo era perfeito em seu interior, que dividia alguns componentes com o Fiat Tipo, como as maçanetas, difusores de ar entre outros itens.
No SZ, um legítimo 2+2, os bancos traseiros mal acomodavam duas crianças, pois devido à curvatura do vidro traseiro, era impossível um adulto se sentar nesses lugares. Os bancos serviam mais para acomodar bagagens, e suprir o pequeno porta-malas do esportivo. Do banco do motorista podiam se ouvir o ronco inconfundível do motor, e se sentir um verdadeiro piloto.
O SZ e o RZ foram carros que ficaram marcados na história da Alfa Romeo, tanto pela ousadia do projeto, quanto pela exclusividade desses legítimos esportivos, que honraram as tradições da Marca.
O SZ e RZ eram o mais perto do que se pode chegar de um carro com tecnologia tradicional, pois não tinha todos os aparatos eletrônicos como controle de tração, controle de estabilidade, e nem mesmo freios ABS eram disponíveis. Era um esportivo puro e dinâmico, a ser totalmente sentido por seu motorista em todos os detalhes. É um carro que ficou marcado na história da Alfa Romeo, e hoje é disputado por colecionadores do mundo inteiro.
Até hoje a Alfa fica devendo um substituto para esse carro de rua com alma de corrida.
IL MOSTRO: Os Alfas SZ e RZ
Curiosidades
- O codinome usado durante o período de pré produção do Alfa Romeo Sprint Zagato era ES-30, que significa Experimental Sportscar 3.0 liter engine, ou seja, carro experimental com motor de 3,0 litros.
- Apenas um SZ foi produzido na cor preta. Era o carro pessoal de Andrea Zagato. Esse carro nasceu vermelho, mas voltou para a fábrica da Zagato e teve sua cor alterada para preto.
- Alguns SZ foram produzidos na cor amarela. Todos foram exportados para o Japão.
- Um SZ teve sua direção convertida para a direita e o motor alterado de 3,0 para 3,5 litros. Essa conversão foi feita pela Autodelta. Tem-se notícias que o carro saiu da Inglaterra para a Nova Zelândia, depois para o Zimbabwe e mais tarde para a África do Sul. Atualmente, o carro esta sendo restaurado.
- Há pelo menos um SZ com inerior preto (SZ-721). Este carro é vermelho e pertence ao "The Franschhoek Motor Museum" na África do Sul.
- O SZ número 938 possui instrumentos na cor branca e esta na Alemanha.
- O RZ estava disponível em apenas três cores: vermelho (130 Rosso Alfa), amarelo (PPG 259 Giallo Ginestra) e preto (PPG 601 Nero).
- Apenas três RZ foram produzidos na cor prata e apenas um na cor branco metálico.
- No Japão pelo menos um RZ (RZ 149) fo vendido com um esquema de cores preto e prata para comemorar o 75º aniversário do modelo. Este esquema de cores foi baseado no esquema usado por Martin Dawes, que pilotaca um RZ preto e amarelo.
IL MOSTRO: Os Alfas SZ e RZ
Ficha técnica
- Motor
-
- Posição
- longitudinal, dianteiro com bloco e cabeçote em alumínio
- Número de cilindros
- 6 cilindros em V à 60º
- Número de válvulas
- 12
- Cilindrada total
- 2.959 cm3
- Taxa de compressão
- 10:1
- Torque máximo
- 25,0 kgfm a 4.500rpm
- Potência máxima
- 210 CV a 6.200 rpm
- Câmbio e embreagem
-
- Número de marchas
- câmbio mecânico com 5 marchas à frente e uma à ré
- Tração
- traseira
- Relações de transmissão
-
- 1ª marcha
- 2,87
- 2ª marcha
- 1,72
- 3ª marcha
- 1,22
- 4ª marcha
- 1,09
- 5ª march
- 1,07
- Marcha a ré
- 3,00
- Freios
-
- De serviço
- Servo-assistido
- Dianteiros
- Disco ventilado
- Traseiros
- Disco ventilado
- Rodas
-
- Aro dianteiro
- 16" x 7
- Pneus dianteiros
- Pirelli P-Zero 205/55 ZR16
- Aro traseiro
- 16" x 8
- Pneus traseiros
- Pirelli P-Zero 225/50 ZR 16
- Dimensões externas
-
- Comprimento do veículo
- 4.060 mm
- Largura do veículo
- 1.730 mm
- Altura do veículo
- 1.300 mm
- Distância entre eixos
- 2.510 mm
- Tanque de combustível
-
- Capacidade
- 68 litros
- Peso
-
- Total
- 1260 kg
- Distribuição
- 56% na frente e 44% atrás
- Desempenho
-
- Aceleração 0-100Km/h
- 7,0 segundos
- Aceleração de 0 à 1000m
- 27,4 segundos
- Velocidade máxima
- 245 km/h
IL MOSTRO: Os Alfas SZ e RZ
Fontes de consulta
por Johnny Carvalho. Texto revisado por Eduardo Guerra.
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