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Alfa Romeo 2300 - Turismo Internacional Brasileiro

Inovador em muitos detalhes, a frente do seu tempo e um desconhecido de muitos brasileiros, ele é um ícone da indústria automobilística nacional, mas pouco reconhecido devido a pouca leitura de muitos que se dizem amantes do automóvel e alguns que se intitulam antigomobilistas.

Em 1974 em tempos de chumbo, e ao som de rock dos clássicos Led Zepelin, Deep Purple e muitos outros, um brasileiro com sotaque italiano discretamente chega ao mercado nacional como miscigenação de raças. Ele é fruto da bi nacionalidade de um projeto sem precedentes no Brasil.

Nasce o Alfa Romeo 2300. Este automóvel, foi projetado tendo como base o projeto italiano do Alfa Romeo Alfetta, porém algumas mudanças no projeto permeavam os critérios de suas engenharia, com características de um novo mercado que não era basicamente o europeu, e sim o mercado do Brasil.

A Alfetta serviu de base para o design do Alfa Romeo 2300 nos primeiros modelos em 1974. Alguns pontos do design ainda foram aproveitados na última série em 1986.

Como ao final da década de 60 e início da década de 70, alguns grandes lançamentos no mercado brasileiro estavam fazendo sucesso, em um país que estava vivendo o milagre do crescimento, seria necessário que este novo Alfa, fosse um pouco mais “encorpado” que o Alfetta, para fazer frente aos Galaxie/Landau, ao Opala e a linha Dodge Dart. O espaço interno do Alfa 2300 só perdia para a dupla dinâmica da Ford, porém sua configuração de cabine era totalmente ao estilo europeu.

Projetado por italianos com participação de especialistas brasileiros da Alfa Romeo/FNM do Rio de Janeiro, nasce um projeto para o mercado nacional tão inovador, que a maioria das soluções trazidas por ele só vieram aparecer no final da década de 80 e início da década de 90. Isso não tem precedente no Brasil. Um projeto que fosse tão inovador e por tanto tempo.

Este não era apenas mais um carrinho com um desenho inovador e sim uma nova concepção em automóvel, que o distanciava da sua concorrência em pelo menos 15 anos. Além disso o projeto antecipou tecnologias 20 anos a frente no Brasil. Existe o mercado automotivo antes e depois do Alfa Romeo 2300, isto só para balizar quando fala-se em tecnologia.

Em 1980, existiam duas versões: a 2300 sl e a 2300 ti4. Uma tecnologia a parte era o motor de 4 cilindros, 2.300 cilindradas, dois cabeçotes fundidos em alumínio (inovação que só apareceu muitos anos depois por aqui) e com uma potência de 149cv na versão ti4 ele era um prodígio de rendimento. Só para ter um parâmetro, o motor do Opala que tinha a medida interna de 2.500 cilindradas, rendia 78cv.

Com uma traseira alta e imponente, foi alvo de críticas dos especialistas da época que reclamavam daquela traseira alta, pois o comum na época eram as traseiras de desenho baixo. Porém todos tiveram que engolir as críticas quando alguns anos depois todas as novas tendências automotivas apontavam para carros com traseira alta. Os primeiros a inaugurarem esta nova tendência foram o VW Santana e o GM Monza Sedã, 10 anos após o lançamento do Alfa Romeo 2300.

Embreagem hidráulica, direção hidráulica progressiva, carroceria com deformação programada, o chamado “conceito de célula de sobrevivência”, regulagem de altura do volante, abertura elétrica do porta malas e tampa de abastecimento, cinto de segurança de 3 pontos para todos os ocupantes, estofamento com proteção contra incêndio, e outras pequenas novidades, são coisas que o brasileiro só começou a ver nos “outros” carro mais de 10 anos depois e ainda gradativamente.

Diante de tanta novidade em um só produto alguém depois de ler um pouquinho do que escrevi ainda tem dúvida de quem foi o mais moderno carro já produzido no Brasil em seu tempo?

Só os conhecedores mais aprofundados, sabem diferir uma verdadeira jóia de uma bijuteria com preços similares.

Esta é a Elvira, uma Alfa Heavy Metal, que fugiu às regras com seu preto fosco e suspenção rebaixada. Obra de um Alfista que queria ver uma Alfa 2300 com um estilo mais radical.

Já ia me esquecendo de uma coisa muito importante: ele foi o primeiro carro com freio a disco nas 4 rodas e ventilado, coisa que só chegou nos “outros carros de série” só em 1991 com Opala Diplomata.

Abaixo com algumas propagandas da época.

Apenas o melhor carro brasileiro da época

Pessoas comuns, não compram Alfa Romeo.

Era e ainda é a inegável associação da marca à grandes marcas de luxo.

Um carro com história, era uma propaganda dirigida para poucos.

por Esdras Siqueira Franco. Texto revisado por Eduardo Guerra

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Artigo original publicado em 16/05/2006 no blog do autor, e gentilmente cedido para publicação em nosso Site.