Artigo
Fábrica Nacional de Motores
Criada para fazer motores de aviões no Brasil, a Fenemé acabou produzindo Alfas únicos no mundo.
Em 1939, o então Coronel Guedes Muniz convenceu o ministro de Viação e Obras Públicas, João Mendonça Lima, a viabilidade da criação de uma fábrica de motores aeronáuticos no país. Nessa época, o crescimento da aviação brasileira já havia atingido um estágio que justificava a implantação no país de uma indústria desse tipo. Então, o governo Getúlio Vargas resolveu fundar uma fábrica de motores, embalado pela grande fase nacionalista, que criou várias empresas estatais como a Petrobrás e a CSN. E assim se inicia a idéia da FNM, a Fábrica Nacional de Motores.
O local escolhido para a construção da fábrica foi a Baixada Fluminense, nas proximidades da rodovia que liga o Rio de Janeiro a Petrópolis. O local atendeu as exigências que deveriam ser: grandes áreas disponíveis, ao nível do mar para o ensaio dos motores de aviação, terras que fossem acessíveis e baratas, com água abundante, energia elétrica e possuir estradas de ferro e de rodagem. O projeto era de grandes dimensões para a época e dispunha de recursos incomuns naquele tempo, como ar condicionado central no pavilhão principal da fábrica, por exigência técnica de temperatura constante para a fabricação de peças e motores.
As instalações da Fábrica Nacional de Motores eram muito modernas para a década de 40, tendo até ar condicionado central em alguns setores, exigência para fabricar motores aeronáuticos. Logo a Fábrica foi batizada de “Cidade dos Motores”, pela grande infra-estrutura que oferecia. No terreno da FNM foram reservados 20 alqueires para a produção de gêneros e de leite, mantendo mais de 300 cabeças de gado e cerca de 9.000 aves para consumo local. Ao mesmo tempo, dava seqüência às obras de um hospital para 200 leitos, bem como de saneamento contra a malária (epidemia na região, que era muito pantanosa) e de pavimentação de estradas de acesso. A FNM chegou a contar com cerca de dois mil trabalhadores incluindo os que participaram da construção da fábrica, produção e atividades agrícolas.
O coronel Muniz foi designado formalmente, em maio de 1939, para negociar com a Wright um contrato de licenciamento para a produção de motores aeronáuticos. Os modelos de motor escolhidos tinham 450 HP de potência, que poderia ser utilizado vários tipos de aeronaves comerciais e militares.
Com a licença de produção, a “Cidade dos Motores” foi finalmente fundada em 13 de junho de 1942. Em 1945, a FNM já produzia geladeiras, o seu primeiro produto, e executava revisões de motores.
As máquinas e equipamentos mais modernos foram comprados pelo governo para montar a FNM, mas o primeiro avião com um motor nacional só delocou em 1946; um grande atraso de fabricação.
Somente em 1946 que os primeiros motores radiais aeronáuticos ficaram prontos, e apenas no dia 19 de agosto do mesmo ano, um avião Vultée BT-13 da FAB, equipado com um motor nacional, decolou pela primeira vez. Esses atrasos na produção prejudicaram muito a comercialização dos produtos da FNM. Nas fotos acima, podemos ver a vista aérea da Fábrica Nacional de Motores, autoridades da época visitando a FNM para ver o primeiro motor aeronáutico fabricado em série no Brasil e o Avião Vultée da FAB decolando do Aeroporto de Xerém, em 1946, com motor Wright, fabricado sob licença pela FNM (Créditos: Acervo FNM/Divulgação).
Nessa época a guerra tinha acabado e os motores que a FNM fabricava estavam obsoletos e caros. Havia no mercado, a preço baixo, motores semelhantes, como sobras de guerra. Sem encomendas de seu principal produto, a empresa teve que se reestruturar em outros mercados, pois o país não podia perder uma indústria de valor estratégico, no qual havia sido investido muito dinheiro. Então se seguiu o exemplo de outras indústrias para a indústria têxtil, compressores, peças sobressalentes para ferrovias e aeronáuticas americanas e européias. Dessa forma a empresa produziu fusos para a própria aeronáutica. A FNM chegou também a projetar e construir um protótipo de um trator.
Porém a fábrica precisava produziu algo em larga escala, já que apenas prestar serviços não supria toda a capacidade produtiva das máquinas. Dessa forma, FNM voltou suas atenções para o mercado que estava em maior expansão na época: o automotivo. Assim, no dia 14 de janeiro de 1949 a FNM assinou contrato com a Isotta Fraschini Spa, e começou a equipar-se para montar os caminhões italianos.
Fábrica Nacional de Motores
ASSIM SE INICIA A HISTÓRIA DA ALFA ROMEO NO BRASIL
Já em 1950, através de um convênio, a fábrica começou a produzir caminhões da também italiana Alfa Romeo, que fariam muito sucesso pela sua robustez e fácil manutenção, sendo logo chamados de “Fenemê”, devido às siglas FNM. A Cruz Vermelha original do Brasão de Milão foi substituída pelas letras "FNM", estilizadas, com efeito final muito parecido ao Emblema da Alfa. Abaixo um caminhão fabricado pela FNM sob licença da Alfa Romeo.
Mas em 1960, com o estouro da indústria automobilística no Brasil, lançada pelo então presidente Juscelino Kubitschek, a Alfa Romeo da Itália autoriza a produção do primeiro automóvel, o modelo Berlina 2000 (o número indicava sua cilindrada), que aqui virou FNM 2000. Logo se deu o nome JK em homenagem a Kubitschek. O carro foi então lançado com muita festa no dia 21 de Abril de 1960, o mesmo dia da inauguração da cidade de Brasília. No logotipo do JK, existiam até três pequenas colunas estilizadas iguais ao do palácio da Alvorada.
O JK reproduzia fielmente o modelo italiano Berlina 2000. Os primeiros veículos eram apenas montados na fábrica da FNM com peças importadas, banco dianteiro inteiriço e alavanca de câmbio na coluna de direção. O motor de 1975 cm³ rendia cerca de 95 cv, garantindo assim ótimo desempenho para a época, atingindo velocidade de até 155 km/h. FNM recebia autorização para fabricar o sofisticado modelo italiano no Brasil, sendo poucas as diferenças entre os modelos europeu e brasileiro.
Esse modelo destaca-se, sobretudo, por ter sido considerado a vedete do 1º Salão do Automóvel, também inaugurado pelo presidente Kubitschek. O carro encantou o país pelo seu requinte, que só podia ser encontrado na época nos importados.
No ano de 1964 e Brasil sofre um golpe militar. Os novos governantes não poderiam permitir que um veículo, especialmente produzido por uma estatal, tivesse o nome do presidente deposto. O FNM JK passou então a ser chamado apenas de FNM 2000, e um modelo esportivo que seria chamado JANGO, homenagem ao vice de Kubitschek – João Goulart, foi lançado como TIMB, sigla que significava Turismo Internacional Modelo Brasileiro.
Em 1968 a Alfa Romeo Italiana venceu uma concorrência e assumiu a empresa, passando a cuidar da produção local. A marca decidiu provisoriamente continuar como FNM, ao invés de mudar de nome, para manter uma tradição de modelos só fabricados na cidade de Milão na Itália. Lançou, no ano seguinte, o FNM 2150, com motor de 2,15 litros e 125 cv, produzido até 1972.
O elegante Alfa Romeo 2300 oferecia um design europeu com alto luxo e tecnologia numa época em que o Brasil fabricava carros altamente defasados em relação ao velho mundo.
No ano de 1974 é lançado o 2300, um carro que era totalmente diferente dos FNM 2000 e 2150. O novo modelo chamado de Alfa Romeo 2300 era mais espaçoso e tinha um design mais atualizado, característico do europeu, e seria um Alfa único no mundo, não sendo fabricado nem na Itália. O símbolo e o nome da FNM não eram mais utilizados nos carros, apenas nos famosos caminhões.
Fábrica Nacional de Motores
ANTES NA EUROPA
Ainda no ano de 1977 o Grupo Fiat brasileiro assumiu a filial brasileira da Alfa Romeo e em 1978 transferiu a linha de montagem do 2300 de Duque de Caxias para a Fiat Automóveis, em Betim (MG), utilizando a fábrica carioca apenas para a fabricar seus caminhões. Essa compra ocorrida no Brasil, iria acontecer também na Europa em 1987, pois a Alfa Romeo passava um momento de grandes dificuldades financeiras.
Em 1980 o Alfa foi aprimorado, ficando ainda mais luxuoso e confortável, em duas versões: SL e TI-4. Uma das novidades eram a direção hidráulica progressiva e o freio à disco nas quatro rodas.
As instalações da FNM foram utilizadas até 1984 para a fabricação de caminhões, quando a Fiat resolveu encerrar a produção.
Alfa Romeo 2300 Ti-4 1985: o último ano de fabricação do carro símbolo de luxo e tecnologia no Brasil. A Fiat encerrava um ciclo iniciado pela FNM na década de 60.
A marca Alfa Romeo fabricava os carros mais caros do país. No segundo semestre de 1986 a Fiat encerrou a fabricação do modelo. No total foram vendidas 29.564 unidades, incluindo as fabricadas pela FNM.
Até hoje a Alfa Romeo é símbolo de tecnologia e luxo aqui no Brasil, pelos seus carros à frente de seu tempo e como uma marca que oferecia no país carros tão bons e modernos quanto os europeus.
por Johnny Carvalho. Colaboração Michael Swoboda
Reportagem retirada do site Alfa Romeo Web sob autorização