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Alfa 155 - Um vencedor a caminho

A chegada de um campeão com coração esportivo. Chega ao Brasil em duas versões, e com motor de última geração, o carro que resgatou a tradição esportiva da Alfa Romeo. Este carro que chega ao Brasil marca a retomada da gloriosa tradição esportiva da Alfa Romeo. E ele tem honrado essa tradição, ao vencer numerosas provas e conquistar dois campeonatos para carros de turismo, o alemão DTM de 1993 e o britânico BTCC de 1994.

Com ele, no ano passado a marca teve o melhor desempenho nos cinco principais campeonatos europeus da categoria Superturismo, acumulando 23 vitórias (seguida da BMW com 19 e Audi com 12).

VOCÊ SENTE FIRMEZA E FORÇA TOTAL O TEMPO TODO".

No mercado desde 1992, o médio Alfa Romeo 155 significou uma mudança de rumo em relação ao lançamento anterior, o topo de linha 164, um carro que se definia mais em termos de luxo e conforto. Desta vez, a esportividade tradicionalmente associada à marca aflorou com exuberância nas seguidas conquistas do 155.

O carro chega no auge da forma, no momento em que é relançado na Europa como a retocada linha 155 Sport, que mereceu um avançado e inédito motor modular: 2.0 Twin Spark 16V, de 150 cv, exclusivo da Alfa Romeo (ver quadro no final da reportagem).

Além de exibir o novo motor em duas versões, a linha 155 teve as bitolas alargadas, para melhorar a dirigibilidade e a estabilidade (o que exigiu pára-lamas mais largos e mudanças nas suspensões), além de ganhar uma grade com moldura cromada envolvendo o imponente escudo que inclui a grade, mais o refinado sistema eletrônico anti furto Alfa-Code.

Na versão Super, predominam os revestimentos de couro e os bancos são esportivos. Na Elegante,há mogno revistindo volante, empunhadura do câmbio e partes do painel e das portas.

É assim que ele vai chegar a partir de meados de outubro, quando também poderá ser visto entre os dias 23 e 29 no Brasil Motor Show, que se realizará em São Paulo. O novo 155 desembarca em duas versões requintadas e devidamente tropicalizadas: o esportivo 155 Super, com relações de marcha mais curtas e ABS de série nos freios, o 155 Elegante, que tem acabamento diferenciado.

O comportamento do carro, experimentado por 0KM na pista de teste da Alfa Romeo em Balocco, nos arredores de Milão, deixa claro seu caráter esportivo. Firme nas curvas e ágil no slalom (avanço rápido em zigue-zague, contornando obstáculos), é um carro especialmente estável. A aceleração rápida (até 100 km/h em cerca de 9 segundos) e a velocidade final, que o ponteiro mostra acima dos 200 km/h, atestam o bom rendimento do novo motor, inédito no Brasil.

Mas é principalmente nas sensações que transmite a quem o dirige que o 155 se revela. A começar pela uniformidade do avanço nas arrancadas e a força sempre presente do motor de velas duplas (uma particularidade Alfa), com amplo fôlego em todas as marchas. Logo se notam ainda que a firmeza e a docilidade do volante, a fácil correção de rumo nas estradas apressadas em curvas e as freadas impecáveis compõem um conjunto agradável e seguro. “É um gran-turismo na performance, no topo de sua categoria, mas feito para ser conduzido com segurança. Tem um pouco do espírito antigo dos Alfa, de carro de família que vence corridas”, define o engenheiro Claudio Sguazzini, responsável pela Alfa Romeo no Brasil e pelo desenvolvimento de produtos do grupo Fiat aqui.

UMA SUCESSÃO DE VITÓRIAS

A marca Alfa Romeo tem uma longa intimidade com a vitória no automobilismo, desde as primeiras décadas do século. Acumula títulos de célebres provas anuais como 24 Horas de Le Mans (quatro vezes seguidas, de 1931 a 1934), Mille Miglia (onze vezes) e Targa Florio (dez vezes).

Foi a primeira campeã mundial de Fórmula 1 em 1950, com Giuseppe Farina e repetiu o feito no ano seguinte, com o grande Juan Manuel Fangio. Mais tarde, voltou-se para as competições de protótipos e carros de série. Entre 1966 e 1984, foi por oito vezes a marca vencedora do Campeonato Europeu de Turismo e teve por quatro vezes o piloto campeão.

Ultimamente, depois de alguns anos afastada dos títulos, é através do modelo 155 que a Alfa Romeo vem retomando suas glórias.

Foi com ele, adaptado para a pista segundo os regulamentos do torneio, que em 1993 o piloto Nicola Larini venceu o importante DTM, campeonato alemão de carros de turismo, acumulando dez vitórias. Em 1994, embora a Alfa não tenha feito campeão, seus pilotos tiveram o maior número de vitórias no DTM. Nesse ano, contudo, seu piloto Gabriele Tarquini venceu o BTCC, campeonato inglês de turismo, sempre com 155.

Em 1995, a Alfa participa do DTM com uma nova geração do 155 V6 TI, de tração integral, equipada com câmbio semi-automático de seis velocidades comandado do volante, como na Fórmula 1. Seu motor V6 de 2,5 litros (que também tem uma versão se série, de 163 cv) atinge nada menos que 440cv a 11.700 rpm.

A versão mais esportiva, 155 Super, distingue-se por detalhes de estilo como um largo e baixo aerofólio traseiro, rodas maiores (15 polegadas), faróis de neblina de série, saias laterais e parte inferior dos pára-choques na cor da carroceria, volante e cabeça do câmbio revestidos de couro. No Elegante, que opcionalmente também pode receber ABS e faróis de neblina, as rodas têm 14 polegadas e o interior é revestido de veludo, com destaque para os detalhes de mogno no volante, na alavanca do câmbio e em parte do painel e da face interna das portas.

O aerofólio e a pintura das bordas inferiores são distinções da versão esportiva Super do alfa 155. Lavador de faróis: um dos equipamentos opcionais.

Um e outro já vêm equipado com aparelho de som (Alpine) e requintes habituais em carros de alto nível, como um vão “porta-esqui” com chave entre o banco traseiro e o porta malas. E podem ter dispositivo anti furto eletrônico, ar-condicionado, bancos-elétricos, teto-solar elétrico, lavador de faróis e airbag. Além de incorporar os mais recentes itens de segurança na sua construção, como as barras protetoras laterais, o carro vem com um sistema automático de prevenção de incêndio. E é bem protegido também contra furto, já que, além do sistema imobilizador de série, que corta a ignição, pode receber o sofisticado dispositivo anti furto Alfa-Code: com ele, o motor só funciona se na hora da partida for inserida a chave de ignição codificada, que contem um microprocessador integrado à central de ignição/injeção.

Nas versões, um dilema entre o blazer e o smoking. Alfa 155 Elegante: sóbrio por fora, requintado por dentro.

Para vir ao Brasil, o Alfa Romeo 155 foi adaptado conforme a orientação dos técnicos de Betim que o testaram exaustivamente. É a chamada tropicalização, que envolve várias mudanças para o carro suportar nossas condições viárias.

Assim por exemplo, o perfil dos pneus aumentou um pouco, de 55 e 50 milímetros nas versões italianas, para 60 e 55 nas nossas (é preciso de mais borracha para rodar por aqui). As rodas que eram de 15 polegadas em ambos, baixaram para 14 na versão Elegante. Os carros também receberam amortecedores mais habituados a nossos buracos: nacionais, da marca Cofap. E, para compatibilizar o motor com nossa gasolina, que contém até 22% de álcool anido, a taxa de compressão baixou de 10:1 para 9,5:1, o que também exigiu a adaptação da central eletrônica que monitora os sistemas de ignição e injeção – intervenções que devem causar, como é comum, ligeira queda no rendimento, cerca de 2%, segundo os técnicos.

Pneus de perfil maior e amortecedores nacionais: sinais da tropicalização.

Enfim, as intervenções chegam até a um reforço nas guarnições das portas, para evitar a entrada típica da poeira fina brasileira. Mesmo a configuração das duas versões foi mudada para o gosto do brasileiro: as guarnições de mogno, que originalmente eram do esportivo, passaram ao outro, o que parece mais adequado à analogia que Sguazzini faz para definir ambos: “È como vestir um blazer inglês ou um smoking. Aliás, é bom ter ambos: um para o passeio do fim de semana, outro para o jantar elegante com uma bela mulher”.

A ênfase na esportividade reassumida pela Alfa no 155 prossegue. Foi acentuada nos dois lançamentos seguintes: a dupla Alfa Spider e GTV, aplaudida internacionalmente pela beleza das linhas e que brevemente também deverá aportar aqui. A mais nova dupla de modelos, 145/146 (os básicos da marca), igualmente aguardada no Brasil, reafirma ainda a continuidade de uma linha estilística inaugurada pelo Spider: através dessas formas, a Alfa procura transmitir sua identificação com a esportividade e o prazer de dirigir. Para nós, é o início de um retorno decidido da marca ao país, onde já foram produzidos quase 30.000 Alfa Romeo, desde os primeiros JK (ver reportagem a seguir).

Assim, até o fim do ano a Alfa terá 30 concessionários exclusivos, que, além de acessórios, comercializarão artigos pessoais da grife Alfa, uma linha requintada. A independência dessa rede permite um nível de atendimento mais personalizado, mais treinado, por pessoas que vivem da marca, para atender ao cliente específico Alfa Romeo. “É um cliente que leva o carro pessoalmente, não manda o motorista. Gosta de falar de carro, conhece, sabe dirigir”, avalia o engenheiro Sguazzini. O engenheiro responsável pela área comercial da Alfa, completa: “É um cliente que tem gasolina no sangue”.

Alfa 155 - Um vencedor a caminho

UM MOTOR DE ÚLTIMA GERAÇÃO

O motor adotado pela nova linha Alfa Romeo 155 recentemente lançada na Europa, e que chega ao Brasil em outubro, é um dos primeiros frutos da nova fábrica de motores do grupo Fiat em Pratola Serra, sul da Itália. Totalmente automatizada, essa unidade produz os avançados motores da chamada família B, que têm de 1,3 a 2 litros, 4 ou 5 cilindros e 2 a 5 válvulas por cilindros: eles se destinam a equipar todos os novos modelos do grupo Fiat. Já estão presentes, por exemplo, no luxuoso Lancia k e no conversível Fiat Barchetta. E logo equiparão novas versões das recentes duplas Alfa Romeo: os esportivos Spider e GTV e os básicos 145 e 146.

Esses motores se caracterizam pela leveza. O cabeçote é de liga de alumínio. O bloco é feito numa liga de ferro fundido especial que permite uma parede muito fina, garantindo menos peso e mais dissipação de calor. Esse bloco já vem fundido com as galerias de refrigeração, sem comunicação com o exterior. Todas as correias são reguladas por tensionador automático, dispensando ajustes. O cárter, de alumínio, favorece a dissipação do calor e reduz vibrações.

Além dessas características, o novo motor do 155 mantém duas já comuns da Alfa: a dupla vela por cilindro (Twin Spark), para otimizar a combustão, e os tuchos hidráulicos das válvulas, que favorecem um funcionamento macio e silencioso. Presente em famosos motores boxers e V6 da marca, o sistema de dupla vela é uma exclusividade esportiva dos motores feitos para a Alfa.

Mas o grande segredo da eficiência desse motor está na abertura variável das válvulas de admissão, que privilegia o torque em baixas rotações. O sistema consiste de um variador eletro-hidráulico que atua sobre o comando das válvulas de aspiração, monitorado pela mesma central do sistema de ignição/injeção eletrônicas.

Conforme o regime de rotações e a carga de aspiração de ar em que o motor esteja trabalhando, o ângulo de abertura das válvulas varia, garantindo um enchimento mais adequado da câmara de combustão e aproveitando mais plenamente o combustível. Assim, quando o motor começa a funcionar o eixo-comando se desloca 25 graus em relação à engrenagem, permitindo que em baixa rotação as válvulas se abram antes de o pistão subir.

Nos altos giros, o eixo-comando volta à posição “normal”. Com isso, em baixa rotação se garante o máximo de torque e em alta rotação o máximo de potência. O resultado é uma progressividade mais uniforme do torque, que chega rapidamente e, sem trancos: o carro tem sempre todo o torque necessário para cada situação, mesmo em baixa rotação. “É uma característica típica dos motores de 6 cilindros” – diz o engenheiro Piercarlo Venesia, responsável pelo desenvolvimento dos veículos Alfa Romeo no Brasil - , “e a idéia foi conseguir a mesma coisa de um motor de 4 cilindros como este”.

A variação de fase no comando de válvulas de admissão garante quase todo o torque já a 2.500 giros.

Alfa 155 - Um vencedor a caminho

Ficha técnica

Características
Motor
Características
bloco de ferro fundido, cabeçote de liga leve, duplo comando de válvulas no cabeçote com variador de fase eletro-hidráulico de comando eletrônico, controle de emissões por catalisador de três vias e sonda lambda
Posição
transversal, dianteiro
Número de cilindros
4 cilindros em linha
Número de válvulas
4
Diâmetro x curso
83x91mm
Cilindrada total
1.970 cc
Taxa de compressão
9,5:1
Potência
150 cv a 6200 rpm
Torque
18.8 kgm a 4000 rpm
Ignição
eletrônica estática com dois distribuidores e duas velas por cilindro combinadas com a injeção
Alimentação
por injeção eletrônica multiponto Bosch Motronic M2.10
Transmissão
Tipo
tração dianteira, câmbio mecânico de 5 marchas
Embreagem
monodisco a seco com comando hidráulico
Direção
Tipo
hidráulica a cremalheira, com diâmetro de giro de 11 metros
Voltas do volante
2,13
Freios
Tipo
A discos nas quatro rodas com sistema antiblocante (ABS) de série na Super e opcional na Elegante. Circuitos hidráulicos independentes ligados diagonalmente, servo-freio a vácuo
Dianteiros
disco autoventilado (287 mm) com pinça flutuante
Traseiros
disco rígido (240 mm) com pinça flutuante
Suspensão
Tipo
Independente nas quatro rodas
Dianteira
McPherson, com braços oscilantes inferiores transversais ancorados a um braço auxiliar, amortecedores telescópicos com molas helicoidais e barra estabilizadora
Traseira
braços transversais ancorados a um braço auxiliar, molas helicoidais, amortecedores pressurizados separados das molas e barra estabilizadora
Rodas
Tipo
liga leve
Aros e pneus
15" com pneus 195/55 VR na Super e 14" com pneus 195x60 VR na Elegante
Dimensões
Comprimento do veículo
4.443 mm
Largura do veículo
1.730 mm
Altura do veículo
1.440 mm
Distância entre eixos
2.540 mm
Bitola dianteira
1.493 mm
Bitola traseira
1.427 mm
Tanque de combustível
Capacidade
63 litros
Porta-malas
Capacidade
525 litros
Peso
Peso vazio
1300 kg (60% na frente, 40% atrás)
Peso carregado
1840 kg (49% na frente, 51% atrás)
Desempenho
Aceleração 0-100Km/h
9,04 segundos
Aceleração de 0 à 1000m
30,3 segundos
Velocidade máxima
208 km/h
Relação peso/potência
8,7 Kg/cv
Consumo*
A 90km/h
16,1 km/litro
A 120Km/h
12,5 km/litro
Ciclo urbano
10,3 km/litro
*Dados do modelo europeu, com gasolina européia

artigo digitado por John Macina e Anna Castro Neves

Reportagem retirada da Revista 0Km

Editora Globo - Ano 1 número 6

por Adilson Augusto / fotos Candido Neto

Setembro / 1995